Você sabia que o consumismo infantil é responsável por 80% das decisões de compra de uma família ( TNS/InterScience, outubro de 2003)?
Não é mais segredo que as crianças representam um alvo importante da publicidade. Não apenas porque escolhem o que seus pais compram, mas por serem tratadas como consumidores mirins. Elas também são, desde muito jovens, impactadas diariamente pela publicidade exposta em diversos meios de comunicação.
O assunto é de tamanha importância que foi tema de redação proposto na edição de 2014 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A referência utilizada pela prova foi um texto jornalístico que discute se a publicidade infantil deve ser proibida no Brasil, além de um infográfico sobre a publicidade para crianças no mundo, e outro texto sobre a criança como o consumidor do futuro.
E você? Tem trazido à tona o consumismo infantil para dentro da sua escola? Deseja receber dicas acerca da melhor forma de abordagem a fim de estimular a reflexão dos seus alunos?
A seguir, vamos dar alguns exemplos de como se pode explorar o tema de maneira produtiva entre os estudantes e torná-los conscientes das escolhas de consumo desde cedo.
Se tiver dúvidas ou sugestões, deixe-as abaixo nos comentários.
Boa leitura!
O consumismo se tornou uma das características culturais mais marcantes da nossa sociedade. Hoje, todos aqueles que são impactados pelas mídias de massa – inclusive as crianças – são estimulados a consumir de modo muitas vezes inconsequente e automático.
Assim, vemos que o modelo econômico capitalista tem se utilizado de vários artifícios para promover o consumismo, promovendo um processo de alienação ideológica na sociedade, que passa a privilegiar o ter, em vez do ser.
Carros, roupas, alimentos, eletrodomésticos… quase tudo dentro de casa tem por trás o palpite ou foi pensado para uma criança. Exceto decisões relacionadas a serviços como planos de seguro, combustível e produtos de limpeza, que têm pouca influência dos pequenos.
Para se ter uma ideia, o Ibope Mídia, que anualmente divulga os dados de investimento publicitário no Brasil, constatou que foram movimentados cerca de R$112 bilhões em 2013 com publicidade. A televisão permanece a principal mídia utilizada pela publicidade, representando 70% do investimento.
Cruzando estes dados com o fato de a criança brasileira passar em média cinco horas e 35 minutos por dia assistindo à programação televisiva (Painel Nacional de Televisores, Ibope 2015), é possível conceber o tamanho do impacto da publicidade na infância.
Se levarmos em conta que a formação humana começa já no seio familiar, os pais devem ser os primeiros personagens na luta contra a publicidade infantil abusiva.
Mas embora a questão do consumismo infantil seja tratada quase sempre como algo relacionado à esfera familiar, as crianças que aprendem desde pequenas a consumir de forma inconsequente e desenvolvem critérios e valores distorcidos representam um problema de ordem ética, econômica e social.
Deste modo, os educadores também têm um papel importante nesse processo de formação das crianças e adolescentes e, assim como instituições públicas e privadas e ONGs, precisam cobrar punições e coibir sim práticas publicitárias abusivas.
Mais do que nunca, é necessário ampliar o debate sobre a publicidade infantil e seus impactos na formação de crianças. Além de refletir mais sobre esse assunto importante e urgente em sala de aula.
Ou seja: as escolas podem e devem abordar o tema na forma de debates, atividades e discussões, mostrando às crianças por que a lógica insustentável do consumo irracional deve ser minorada e evitada, e desenvolvendo nelas critérios de valores éticos, econômicos e sociais para absorverem o que é de fato necessário e o que supérfluo.
Referências sobre publicidade infantil para sala de aula
Todos estamos inseridos nesse processo, e as consequências disso atingem toda a sociedade. Portanto, nas escolas, o professor deve abordar a questão do consumismo de forma a despertar o senso crítico dos estudantes. Demonstrando como somos induzidos a sempre adquirir produtos, que muitas vezes são desnecessários.
Para quem deseja abordar o tema publicidade infantil em classe, um ótimo começo de discussão pode ser com a exibição do documentário “Criança, a alma do negócio” (2008) ideal para os alunos do ensino médio.
No filme, é apresentado como as crianças passaram a ser o principal alvo da publicidade. Além disso, mostra como são mais vulneráveis do que nós, adultos.
Outro ponto de vista que pode ser trabalhado entre os alunos é o impacto da publicidade infantil e do consumismo na infância na sustentabilidade do planeta. A cartilha Consumismo Infantil na Contramão da Sustentabilidade, produzida pelo projeto Criança e Consumo, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, é um excelente material que mostra como se pode reverter este quadro.
Em entrevista ao site Brasil Escola, o Professor de Geografia Wagner Cerqueira e Francisco também recomenda uma atividade interessante, capaz de despertar interesse nos alunos respeito das consequências da publicidade infantil:
1 – Escolha uma ou duas imagens que representem consumo excessivo e pergunte às crianças se há necessidade de adquirir tantos produtos.
2 – Posteriormente, questione se os alunos compram muitos produtos que não usam, como roupas, brinquedos, eletrônicos, etc. E quais são os motivos que os levam a ter esse tipo de atitude. Nesse momento, vale a pena destacar como os meios de comunicação estimulam as pessoas a sempre comprarem mais e mais. Elucidando, assim, sobre a forma com que as propagandas publicitárias relacionam a imagem do produto ao sucesso, à alegria, felicidade, prazer, entre outros aspectos “positivos”.
3 – Em seguida, o professor sugere distribuir entre os alunos uma cópia do poema “Caso complicado”, de Carlos Queiroz Talles:
Caso complicado
Essa história de dinheiro
é um caso complicado…
O que se ganha é contado,
pedido, sofrido, suado.
O que se gasta, porém,
nem sempre é o precisado.
Tudo e todos nos ensinam
a gastar, gastar, gastar.
Compre isso, compre aquilo,
compre vida, compre amor…
A gente acaba querendo
o que quer e o que não quer,
o necessário e o inútil,
o falso e o verdadeiro,
como se o tal dinheiro
caísse em penca do céu.
Mas não cai… e aí começa
a maior das chateações.
Vontades que não tem jeito,
invejas de fazer medo,
desejos que não se entendem,
sonhos de sonhos desfeitos.
O que fica é uma vontade eterna
de querer mais
e uma tristeza sem graça
de não ser o que se é.
Essa história de dinheiro
é um caso complicado…
Será que a vida ensina
o que fazer para encontrar
o tal mapa da mina?
4 – Depois, ele indica fazer a leitura do poema ressaltando os elementos contraditórios do capitalismo. A maioria deles normal para a sociedade graças à total alienação, como por exemplo: “Por que os produtos diminuem de durabilidade enquanto existe a evolução da tecnologia?”. Ou “Por que existem tantos produtos descartáveis?”
Após o debate sobre esses questionamentos, peça aos alunos para elaborarem uma redação abordando o poema e as figuras analisadas.
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